terça-feira, 20 de maio de 2008

A síntese de um Ser

Por muito, estive eu, em minha singularidade de plurais controversos e conflituosos, em um campo de desfalecidos sonhos de gritos sem cores. Gritos que fizeram de mim, um ser sombrio, triste e incrédulo. Momentos que fizeram de mim um ser não bom. Não em sua totalidade. Por muitas vezes, lá, me peguei olhando, olhando para o Nada que tentava em sua mais aguçada persuasão, sucumbir-me com suas ilusões dissimuladas. Os risos não mais eram de felicidade, como deveriam de ser, eram apenas porque o ato do chorar não mais resolveria nada. Era simploriamente uma segunda opção. As ruas, ah!, as ruas. Lembro-me de perambular por elas enquanto minha sanidade se perdia nas sombras dos postes de luzes mordazes. Por vezes, em meio a chuva fria, vi minhas cores se desfazerem pelo acido de meu pranto. A musica do vento era uma cena de Puccini. Bela e triste. Outras vezes era a canção do desvario, que soava em meu ouvido e eu tremia, e dormia. O sol, nunca me iluminou por aquelas paragens. Não gosto deste. Lá ele me fazia suar e cansar e por vezes, cegava-me. As calçadas, as praças, a ausência das arvores de que tanto gosto, não agradavam aos meus olhos famintos de novas texturas. La não era meu lugar. Sempre ouvi uma voz que me dizia isso quando por momentos vis me vi perdida e só em meio à tantas setas de direção e tantas pessoas.
Um dia acordei e senti ares diferentes tocarem meu rosto. A Mudança veio dar-me a honra de sua presença ilustre. Me fez um pretensioso convite. Quando me dei por mim, lá estava eu, rumo à outras terras. Terras novas. Era um novo começo. O momento exato que a vida, esta esmeril vida, decidiu por caridade, ajudar-me a superar o que passei, e a recuperar a felicidade que estava a dormir profundamente dentro de um quarto de castigo que havia no meu peito, bem próximo da sala do desespero, que fechei e lancei a chave no abismo dos pesadelos, na qual nem lembro mais como chegar por lá. Os ares mudaram, e tudo ao redor de meus corpo decaído, se fez de risos, de rostos novos, de novas vozes, de novos seres. Almas claras de uma luz que quase me cegou por milésimos de susto. Milésimos estes que nem notei. Senti, apenas, o calor de tais almas. As ruas daqui não são tão retas, mas muito coloridas, uma multiplicidade de cores ternas e harmônicas. As musicas deste lugar tem um ritmo de risos de alegria. O sol, embeleza as aguas e aquece o vento. As arvores que tanto adoro, aqui tem, e me vejo nelas a todo o tempo. Dançando descalça nas nuvens de fumaça.
Mas, em torno de tantas coisas e de tantas almas, uma se fez douradazulesverdeada, encantou-me com suas facetas tão evidentes. Rir, ouvir, falar, sentir, abraçar, beijar, sentir e como sentir e dormir à sombra de seus cílios, me fizeram ver que por mais muda que eu seja, eu falo com os olhares suntuosos de minhas células que provam a inerência de minhas necessidades corpóreas e do alem-mundo. Nesta alma eu esqueço do vil passado, dos tristes sonos, do vento frio, da solitude de uma multidão. Fiz de seu sorriso, meu abrigo. Não o vejo, mas o sinto dentro de minha alma vermelhalilásrôse. Talvez seja esta a dita alma que por tanto apreço e apego, eu venha a decair quando a sua presença não mais se permanecer tão real em meus dias de felicidade. Por mais que os desejos mais vis rondem em torno de nossa carne famigerada, o olhar castanho que me fita à fazer tantas questões, me fazem superar os delinqüidos, fúteis e inerentes instintos de nós, seres viventes.
De uma coisa eu sinto falta daquele cosmo que deixei. O céu estrelado e a lua que sempre sorriam sincopadamente para meus olhos. Eu tenho de voltar lá. Porque por mais tristonho e tedioso que seja, é lá que estão os que me fizeram Andrya, os que completam Andrya. Os amigos que fizeram eu sorrir por algumas vezes a esquecer por segundo quem eu era. Eu vou, passo o feriado, mas eu sempre voltarei para os braços do Mar, mesmo que este, faça como eu, zarpe em busca de sua felicidade, deixando apenas o resquício da triste saudade.
Ps: Ouvindo repetidamente "Bloco do Eu sozinho", dos companheiros Los Hermanos

Um comentário:

luís disse...

um testemunho quase etéreo. nada de muito concreto.

mas temos algo em comum. eu também sei o que são ruas sem árvores, as mesmas ruas sem árvores por onde vc passou. e também ouvi as músicas alegres, bobalegres, e as cores da cidade onde vc se mudou-refixou. e o principal, temos um elo perdido, uma pessoa. uma amizade em comum

e é claro. não é a minha amizade por vc. nem a sua por mim. isso não existe

o que existe entre nós é a nada mais nada menos que a pura existência

e o som das sílabas não pronunciadas. escritas em nossa língua mãe.

somos irmãos de vocabulário